Por Antonio Guilherme Schmitz Filho
Perdemos o SÓCRATES (1954-2011)! Um atleta de futebol que exerceu sua função para além daquela comumente atribuída aos jogadores. Sócrates foi o homem da democracia Corintiana. Um raro momento em que o hierárquico mundo do futebol foi remexido. Um raro momento em que os trabalhadores da bola assumiram ideologicamente as questões que envolviam o ambiente de jogo, de treinamento, concentração e contratações. Embora de pouca duração, um momento que deixou marcas e deu relevo aos anseios e desejos importantes à manutenção do fenômeno esportivo em nossa cultura. Os responsáveis pela sustentação do espetáculo esportivo ganharam voz e poder de decisão.
Um BRASILEIRO posicionado e politicamente ativo. Era quase óbvio que por onde Sócrates passasse o debate se faria em ato. Discussão estabelecida para o alcance dos direitos. Conversa encaminhada para o reconhecimento de muitas coisas processadas a margem das reais necessidades dos jogadores. Inversão do fluxo decisório de cima para baixo ou só de cima. Os jogadores ingressaram no universo reservado aos dirigentes. Uma peculiaridade única ou ao menos incomum.
Às vezes em que assisti as entrevistas concedidas por Sócrates era clara a sua posição em relação ao desenvolvimento esportivo no Brasil. Críticas pontuais em relação à utilização dos recursos, a forma de aplicação e estruturação de uma base esportiva e fundamentalmente a politicagem desmedida que orbitava e orbita o mundo esportivo. O Doutor tinha uma grande preocupação em estabelecer um status qualificado para o esporte brasileiro. Ele reconhecia o espaço ocupado pelo ídolo como um espaço importante de posicionamentos e articulações em prol do conjunto e dos propósitos que embalam o esporte a longo prazo.
Ídolo do Corinthians faleceu neste domingo
Em uma das suas últimas aparições ele salienta a chance que o Brasil adquiriu em sediar a Copa de 2014 e a Olimpíada de 2016, de mostrar ao mundo, os brasileiros, o nosso país. Mas ao mesmo tempo ele chama atenção dizendo que a pessoa que gerencia tudo isso não possui compromisso com a nação, não está preocupada com isso. No meu entendimento, uma clara alusão a ideia pura e simples de lucro ligada aos Mega Eventos Esportivos. Talvez nesta pequena puxada de orelha, o Sócrates Brasileiro tenha produzido uma mudança no discurso recente da CBF: a Copa do povo brasileiro.
O punho cerrado característico do Magrão, gesto de comemoração no momento dos gols, foi a homenagem que os jogadores corintianos e a torcida, escolheram para a abertura da rodada final do Brasileirão 2011. O simbolismo deste protagonista e as suas manifestações são a essência que obrigatoriamente deveria ser preservada e analisada cuidadosamente. Cerrar o punho, encerrar as decisões no campo da discussão são atitudes nobres e verdadeiras. É a representação da vontade de quem deseja solucionar os problemas e crescer com eles. É uma pena que tenhamos perdido tão valioso interlocutor.
Vídeo - Sócrates brasileiro
No YouTube, em um vídeo do ESPORTE "ponto final" (vídeo acima) Sócrates se confessa admirador de Tiger Woods, segundo ele um negro em um mundo branco aristocrata, mas acima de tudo humano. Porque na expectativa de perfeição que envolve o golfe ele é o melhor errando muito, por puro talento. Com isso ele destaca que o esporte é muito rico em todos os aspectos que formam o ser humano. E conclui perguntado qual o motor que move os atletas das diferentes modalidades a ultrapassarem seus próprios limites, que combustível é esse? E ele mesmo parece responder: (...) a gente [atleta] consegue se transferir para o desconhecido, para o incompreensível através do esporte... Grande Magrão!!!
Muito bom! Traduziu o que foi o "Dr" Sócrates para o futebol e para o Brasil!
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