quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Neyzinho viveu do auge ao esquecimento


Por Andrez Granez, Bruno Garrido e Felipe da Rosa

Ao ler o livro “Cabeça-de-bagre”, escrito pelo professor Cyro Knackfuss, passamos a nos interessar mais pelo futebol de Santa Maria e também por uma figura que consideramos histórica, e que hoje, aos olhos de muitos, não tem o devido destaque. Poucos sabem do valor e importância de um senhor para o futebol do município. Esta é apenas uma breve historia sobre a vida de Luiz Carlos Moreira Cardoso, mais conhecido nos campos de futebol de Santa Maria como o Neyzinho . Ele nasceu em Santa Maria, em 23 de agosto de 1952, perdeu seu pai ainda muito novo e foi criado, junto com seus três irmãos, pela mãe Carildes Moreira Cardoso. Neyzinho, como segundo filho, ajudou na educação de seus irmãos menores. Mas, já aos 11 anos, encantava os garotos e adultos com sua velocidade e inteligência dentro dos gramados de futebol. 

Por ter origem pobre, Neyzinho cresceu jogando bola no antigo matão, campo de futebol com linhas e traves artesanais situado em um grande matagal, onde se localiza hoje o Centro Desportivo Municipal (CDM). Ali, naquele humilde campo onde a poeira da terra muitas vezes impedia os jogadores de ver a bola, foi onde ele marcou seu primeiro gol e ganhou reconhecimento, inicialmente dos amigos, depois dos técnicos de futebol amador da cidade. Atuou no Ideal e no Aliado, quando foi chamado para jogar no Imembuy, outro time amador de Santa Maria. No seu primeiro ano de amador, levou o time ao vice-campeonato citadino, perdendo apenas para o Inter –SM, que era a equipe sempre a ser batida. 

Neyzinho se destacou bastante e, no ano seguinte, passou a compor a equipe de juniores do próprio Inter-SM. Atuou no time até completar 17 anos e ser promovido a profissional. Nesta fase, os problemas de Neyzinho começaram. Muito jovem, com seu jeito humilde e sempre amigo de todos, passou a ter a companhia de jogadores mais velhos e outros costumes. Vieram as primeiras conquistas importantes, como a Copa do Interior Gaúcho. Junto com as vitorias, as festas e bebedeiras mostraram outros caminhos para o jogador, mas Ney ainda iria conquistar muitos títulos. 

Conforme o professor Cyro Knackfuss, Neyzinho era um dos canhotos mais inteligentes que viu jogar. Em uma partida valida pelo Campeonato Gaúcho de 1972 contra o Grêmio, no Estádio Olímpico, Knackfuss lembra da tranquilidade de Neyzinho ao dar passes e entortar os marcadores adversários. Neste jogo, ele fez dois gols e deu dois passes para a vitória do Inter-SM. Isso rendeu ao jogador um contrato com o Grêmio, de Porto Alegre, onde ele conheceu realmente a noite fora dos gramados. 

Em meados de 1980, que os problemas de Neyzinho com o álcool aumentaram. O Grêmio vinha formando um grande time e tinha interesse enorme em utilizar o atleta, mas a bebida e a noite tinham se tornado um drama e aquele jovem, que antes era sorridente, carinhoso com sua família e um grande amigo de todos, começou a perder o brilho. No ano de 1981, o jogador foi dispensado pelo Grêmio, o Vasco da Gama (RJ) teve interesse, mas desistiu quando soube dos problemas de Neyzinho, que acabou no Guarany de Bagé. 

Nesta fase, ele ainda passou por muitos times do interior do Estado, mas era mais conhecido como boa companhia nos bares do que como jogador. Neyzinho encerrou a carreira com 31 anos e voltou para Santa Maria, onde perdeu o amor pelo esporte e passou a priorizar o álcool. Ele ainda trabalhou alguns anos fazendo consertos e reparos elétricos. 

Neyzinho, hoje, é visto em vários locais. “Pra me achar, é só vir até o bar”. Ele é generoso e amigo de todos, mas diz que não quer que ninguém passe pelo que passou, embora na sua época isso fosse normal. Neyzinho reconhece que lhe faltou estrutura, e afirma que se fosse hoje isso não se repetiria. A melhor lembrança como jogador foi atuar no Grêmio, um marco na venda de jogadores de Santa Maria. Segundo Knackfuss, “Neyzinho abriu o mercado de jogadores do interior e mostrou a nossa qualidade.”     



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